Pessoas sofisticadas me dão medo. E eu as reconheço pelo olhar. Quanta pretensão, hein?
Mas hoje aconteceu de novo.
Ok, vamos iniciar mais uma daquelas viagens intermináveis a respeito do ser-ou-não-ser-do-ser-humano. Quem não quiser ler, não perca tempo.
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Eu não entendo muito de desenvolvimento de software, e não gosto nada de comparar o comportamento humano com um programa de computador. E explicar coisas através de comparações às vezes é bom, mas às vezes é lamentável. Enfim, vamos lá:
O ser humano parece ter nascido com um framework social dentro da cabeça, um conjunto de ferramentas, a maioria de funcionamento inconsciente, que possibilitam sua devida interação social.
(Interação social, por sua vez, foi uma coisa que eu demorei pra aprender. "Aprender" não é bem a palavra... mas como eu não fui exposto suficientemente a outros seres humanos nos primeiros anos de vida, esse desenvolvimento teve que ser feito mais tarde - e bem tortuosamente.)
Mas o framework, bem ou mal, está funcionando. O desenvolvimento tortuoso me trouxe algumas características bem engraçadas. Dizem que a autoconsciência está associada à paranóia (aqui)...
A psicologia transpessoal, ponto nevrálgico para alguns paranóicos, questão tensa e controversa, me fez refletir sobre esse framework, aparentemente dado de graça a nós. Ou fruto da evolução, como queiram.
O framework está intimamente relacionado àquela história de que trocamos mais informações não-verbalmente do que verbalmente (do qual isto parecer ser efeito daquilo).
E hoje foi um dia bastante rico.
Vi pessoas com essa comunicação-meio-invisível bastante evidente. Estavam interagindo bem intensamente. Eram jovens e bonitas. Presumo que não tinham a menor noção disso tudo.
Vi também uma outra pessoa na qual isso parece ser nulo. E que também não tem muita consciência disso.
Interagi também com uma outra pessoinha que parece ter tudo isso meio distorcido. Mal de mulher bonita, sabe... acha que no mundo só tem pessoas boas e gentis.
Interagi, e este é o ponto alto do post, com uma pessoinha com aquele olhar misterioso que me paralisa. Aquele olhar que passa uma sensação de eterno mistério. Algo inalcançável.
Aconteceu outras vezes, e é horrível. É horrível mas é bom.
Essa interação foi subjetiva e inconclusiva. Ficou só nesse "talvez". Ficou só nesse nível inconsciente, mas que às vezes sobe à tona. Mas pode ter sido só uma atração visual.
Olhando de fora, essa coisa toda é algo que me encanta. E trazer essas informações ao consciente, pra mim, é uma verdadeira rasteira na graça de se viver; mas às vezes me traz uma alegria incomensurável.
Vamos abrir um parêntese: Recentemente troquei de óculos. E, claro, não se consegue, nesse mundo, fazer dois óculos iguais. Enfim, foi interessante notar que o processo da visão tem coisas que acontecem meio automaticamente. É como se a presunção de algumas verdades (como "o chão está embaixo", "a parede é aqui do lado", "as coisas estão sobre a mesa e não caem") criasse atalhos de interpretação que liberam o cérebro para outras interpretações de mais alto nível ("alto nível", no sentido de programação de computadores, ok?) E a troca de óculos me obrigou a me acostumar a ver as coisas de uma outra maneira. Quem tem astigmatismo (mas pode ser outra coisa também) freqüentemente relata que, com óculos, o chão fica meio inclinado, o teto fica mais alto/mais baixo, etc. o que obriga a pessoa a se acostumar a tudo isso, ou, reaprender a enxergar. Daqui podíamos ir para a plasticidade neuronial e pra neuróbica, mas aí iríamos nos perder.
De volta à divagação...
Esse framework (isso já tá ficando repetitivo...) parece ser um processo automático, que inclusive dispara reações hormonais (sim, sexo). Bem ao modo desse automatismo de visão aí em cima.
Levanto aqui uma hipótese: A ausência ou distorção desse framework seria a causa de algumas depressões?
Como eu acho que ninguém vai ler até aqui, então eu vou ser mais claro: Tem essa história de que "se o fulano cruza os braços, é por causa disso", "se o beltrano faz assim com a mão, é por causa daquilo". Tem vasta bibliografia sobre isso, a qual eu me recuso a relatar.
Se o framework está funcionando, a pessoa se encaixa socialmente de maneira bem boa, se veste direitinho, interage legal com os outros, se torna uma pessoa sociável e tudo mais... e aí entra Freud e a história da libido, dos desejos e tal. Se o framework não funciona, os hormônios não são liberados, os neurotransmissores não funcionam, e as vontades não se manifestam. E a depressão se manifesta.
Só que, porra, já são 2h40 e eu tenho que dormir URGENTEMENTE.
Amanhã quem sabe eu continuo essa viagem com alguma conclusão decente.
Estou decifrando um enigma começado há uns 5 anos. É uma música. Um compositor, na verdade. E é simplesmente encantador. Mas isso envolve uma pessoa com um certo mistério no olhar, uma incrível sofisticação... vamos parar por aqui.
14.12.07
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Um comentário:
Não presuma que isso esteja certo, ok? É tipo um sofisma: faz sentido mas é errado.
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