Figura 1 - Não há orelha melhor para ilustrar esse post |
Um belo dia, assoviando uma música, notei que, ao assoviar uma determinada nota musical, meu ouvido esquerdo ouvia simultaneamente outra nota, um pouco mais aguda.
Eu juro para vocês que isso é verdade.
Não houve nada que justificasse tal fenômeno, como ruído muito alto, pancada na cabeça ou infecção. Nada.
Fiz diversos experimentos usando fones de ouvido e aplicativos de celular que geram ondas sonoras.
Concluí que os tons entre 1300 Hz e 1500 Hz faziam aparecer em meu ouvido esquerdo um tom de 1500 Hz.
Figura 2 - Gráfico da minha audição entre 1kHz e 2 kHz, durante o fenômeno |
O mais curioso é que não ocorria o fenômeno do batimento, que ocorre quando ouvimos sons de frequências próximas. Tampouco tive problemas de equilíbrio.
Desta forma, tudo leva a crer que as conexões elétricas da minha cóclea tiveram algum curto-circuito.
O fenômeno era bem perceptível quando eu gerava uma varredura de som que abrangesse essas duas frequências em questão. Era mais fácil de perceber no caminho descendente. No caminho ascendente, a percepção era menor.
O seguinte fenômeno foi o mais surreal de todos: Ao passar a mão pelo pavilhão auditivo direito, aparecia também o tom fantasma no ouvido esquerdo. Eu não saberia explicar isso direito, mas suponho que, na ocorrência de som em um dos lados, a transmissão de som pelos ossos da cabeça gera uma expectativa de uma parcela do mesmo ruído (filtrado, defasado, atenuado) no ouvido do outro lado. (Para quem entende um pouco da psicoacústica, sabe que o senso de direcionalidade não é simplesmente "o som mais alto de um lado, e mais baixo do outro lado". A coisa é SUPER mais complexa: envolve defasagens e atenuações seletivas, difíceis de serem modeladas.) Aí, o ruído até aparecia do outro lado, mas o curto-circuito tratava de redirecionar tudo para os 1500 Hz.
Antes que as gracinhas perguntem se não havia um bicho, ou mesmo muita cera dentro do meu ouvido, a resposta é negativa.
Pensei em fazer uma consulta, mas já pensaram na vergonha? O/a médico/a iria rir da minha cara. Na verdade, eu até vou me consultar uma hora dessas. Vai dar um excelente post.
Por fim, o tal fenômeno foi embora.
Acredito, com bastante razoabilidade, que meu ouvido sofreu uma readaptação (ou, melhor, o cérebro), nestas frequências, motivado principalmente pela questão de os ruídos da cabeça atingirem os ouvidos simultaneamente, e aí alguma estrutura cerebral que se encarrega de fazer o pré-processamento da audição, deve ter se adaptado ao novo perfil espectral.
Parece haver uma leve atenuação no intervalo de frequências mencionado (1300-1500 hz) no ouvido esquerdo, mas é muito tênue.
Se alguém tiver alguma informação sobre o que aconteceu, por favor, utilize os comentários. Eu fiquei numa grande agonia.
EDIT: Eu até sou um desligado completo para algumas coisas, mas nesses fenômenos dos sentidos humanos eu presto muita atenção. Por exemplo: não teve nenhum óculos até hoje que me agradou de primeira. A impressão que dá é que os óticos fazem óculos como quem faz cocô. Quanto à audição, isso deve ser algo que os médicos chamarão de "zumbido", sem maiores explicações (porque vai ser difícil convencer alguém que é virose).
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